📅 Maio de 2024 foi um mês que ninguém no sul do Brasil vai esquecer.
Imagens de casas arrastadas, cidades submersas e crianças sendo resgatadas de barcos improvisados tomaram conta das redes sociais e dos noticiários. As chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul naquele mês deixaram mais de 170 mortos, centenas de desaparecidos e bilhões em perdas econômicas.
Um ano depois, a pergunta que ecoa é simples: o que realmente aprendemos?
❌ Ainda culpamos a chuva.
Nos discursos oficiais, nas entrevistas, nas postagens bem-intencionadas, o inimigo segue sendo o mesmo: a chuva.
Mas chuvas não matam. O que mata é a ausência de preparação.
O que destrói é a falta de planejamento urbano, é o corte em políticas de prevenção, é a negligência coletiva e institucionalizada.
Durante um curso no Japão, ouvi de um professor:
"Terremotos não matam pessoas. Casas frágeis, sim."
A lógica é simples: o fenômeno é natural, o desastre é social.
🔁 O ciclo se repetiu.
Assim como em Brumadinho, Mariana, Petrópolis, Moçambique, Haiti… o Brasil se mobilizou.
Doações chegaram. Voluntários se apresentaram. ONGs correram contra o tempo.
Mas logo a água baixou. E com ela, a vontade.
A reconstrução parou. O debate esfriou. Os programas de prevenção viraram promessas de gaveta.
O luto coletivo foi substituído por indiferença pública.
📉 Os números são brutais.
Segundo o relatório 2025 Climate and Catastrophe Insight, os desastres naturais causaram US$ 368 bilhões em perdas econômicas em 2024.
Só no Rio Grande do Sul, as estimativas passam de R$ 7 bilhões em prejuízos diretos, sem contar os impactos indiretos que empurraram a economia local para trás.
Empresas fecharam. Escolas não reabriram.
E a vida — que já era dura — ficou mais precária para quem menos tinha.
💸 Prevenção é invisível. Mas funciona.
Cada dólar investido em prevenção economiza de 10 a 15 dólares em resposta e reconstrução.
Mas isso não entra no Instagram. Não vira manchete. Não emociona quem não vê o que foi evitado.
Prevenção é o bombeiro que treina a comunidade antes da enchente.
É a sirene que toca antes do deslizamento.
É o abrigo pronto, o plano de evacuação testado, o líder comunitário preparado.
Lembro de uma cidade no RS onde uma bombeira treinada pela HUMUS conseguiu evacuar todas as famílias a tempo.
Nenhuma morte. Nenhuma casa perdida. Nenhuma notícia.
Enquanto isso, a cidade vizinha com dezenas de mortos recebeu recursos, doações e cobertura nacional.
Estamos premiando o caos e ignorando a competência.
⚠️ O que vem pela frente?
Os eventos extremos não vão parar.
Eles vão se intensificar.
E, se continuarmos tratando a crise como exceção, ela nos tratará com indiferença.
Vamos ver mais carros sendo arrastados.
Mais crianças soterradas.
Mais sirenes tarde demais.
E em todas essas tragédias, alguém diante das câmeras vai dizer:
“A culpa é da chuva.”
✅ O que podemos (ainda) fazer:
Investir em prevenção — hoje, não amanhã.
Cobrar planos municipais de contingência e adaptação.
Valorizar quem trabalha antes do desastre, e não apenas depois.
Parar de premiar o caos com dinheiro e audiência.
Transformar solidariedade em estratégia.
🧠 Conclusão:
O Brasil é solidário, mas não é estratégico.
É generoso, mas desorganizado.
É capaz de salvar, mas insiste em chorar.
Já passou da hora de virar essa página.
A tragédia de 2024 precisa ser a última dessa magnitude por omissão.
Se a culpa é da chuva, a responsabilidade é nossa.
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✍️ Por Leonard Farah
Especialista em Gestão de Riscos e Desastres pela JICA – Tokyo
Mestre em Engenharia Geotécnica e Desastres pela UFOP e Universidade do Chile